quarta-feira, 13 de junho de 2012

Alianças - Capítulo 1

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Alianças
Capítulo 1 

            Não pude disfarçar naquela noite. O ciúme tomou conta de mim. Minha reação foi infantil. Agora estou aqui, nessa cama de hospital. É, tem certas coisas que não dão para voltar atrás.
            - Como está se sentindo?
            - Bem... eu acho. – eu realmente estava melhor. – Só um pouco de dor de cabeça.
            - Normal. – ele entrelaçou sua mão na minha. – Bobinha.
            Sorri. Adorava quando ele me chamava de bobinha com aquele jeitinho doce dele, e aquele sorriso lindo.
            - Me desculpe... – falei engasgando.
            - Acontece. – ele desviou o olhar. – Você podia ter se controlado...
            Engoli em seco.
            - Acho que sim... – virei o rosto dele para o meu. – Apenas é... que... eu te amo e tenho muito medo de perde-lo.
            Ele não falou nada, apenas ficou olhando para mim por alguns longos segundos.
            - Tem uma coisa que preciso te dizer... – ele pausou.
            Ainda olhando para mim, ele pegou um papel do bolso de sua calça e entregou para mim.
            - Apenas leia. – ele falou sério.
            Me deu um frio na barriga e um nó na garganta mesmo antes de ler.
           
            Queria poder te dar tudo que você merece, mas, meu amor, desculpe, não pode continuar assim. Fui aceito na universidade na qual eu me inscrevi, fora do país. Tenho que ir. Oportunidades como essa não aparecem toda hora. Desculpe. Eu te amo tanto que nem sei como demonstrar isso, mas acho que o melhor para nós dois é a nossa separação. Eu te amo.
            Me sinto até meio insensível por não estar falando isso. Você não faz ideia de como doeu escrever para você. Meu amor. Apenas te digo tchau, porque não é para sempre. Prometa-me que vai seguir em frente com sua vida mesmo estando longe de mim. Prometa. Eu te amo.

            Não consegui conter o choro. Ele me olhou, e começou a chorar também. Ele me abraçou com toda a força. Não sabia nem o que pensar.
            - P...pro...prometo. – sussurrei.
            - Te amo. – ele falou no meu ouvido, ainda me abraçando forte.
            Ele se levantou e saiu do quarto. Sabe aquela sensação de estar morrendo? Pois é, era como eu estava me sentido, de novo.

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            Primeiro dia de férias, e como sempre, baladinha e bebedeira a noite toda. Carlos Eduardo, o fodão. Alto, sarado, gostoso, falei. Sou demais. Humildade e sinceridade são minhas qualidades. Apenas 19 anos de pura diversão e ousadia.
            Vou pegar aquela gata da Diana essa noite. Dessa vez ela não escapa. Vou usar o carrinho do papai, mas com todo respeito, só serve para pegar gatinhas. Não que eu seja filhinho de papai, não gosto desse termo. Pode dizer, provido de dinheiro sem trabalho. Playboy? Hahaha. Ache o que quiser.
            Essa noite não vai ter para ninguém!

           
Buzinei. Não deu tempo de parar. Ela não saiu. Droga. Matei? Ai meu Deus! Chame a ambulância. Não foi porque eu quis. Merda.
            -Você é um babaca Carlos. – Diana saiu do carro com raiva e preocupada.
            - Eu... eu... – eu estava em choque.
            - Ela esta viva? – ouvia os ruídos e as conversas de fora. – Esta sim.
            Medo, pavor. O que eu estava sentindo? Culpa.
            - Pelo menos você não matou ela seu idiota. Nunca mais me ligue. – Diana gritou na janela do carro e foi embora.
            Péssima noite. Atropelei uma menina, perdi a Diana, apreenderam o carro do meu pai e ainda levei ponto na carteira por estar bêbado. Merda de bebida. Merda, merda, merda.

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            - Julia, um rapaz quer vê-la. Carlos Eduardo, posso mandar entrar?
            - Pode... – não o conhecia.
            O menino entrou no quarto.
            - Oi. – ele falou sério e segurando um buque de flores muito bonito por sinal.
            - Oi. – estranhei. – Quem é você?
            - Bem... sou aquele babaca que te atropelou. – ele falou sem olhar para mim, enquanto colocava o buquê num dos vasos vazios do criado mudo.
            - Ah. – fiquei surpresa, afinal não esperava que ele desse as caras.
            - Desculpe. – ele disse, ainda sem olhar para mim.
            - Apenas estávamos no lugar errado, na hora errada. Acontece. – falei tentando tranquiliza-lo. Percebi que ele não estava bem, do mesmo jeito que eu não estava.
            - Sabe... a culpa foi minha sim. Eu bebi naquela noite e peguei o carro. Sou um idiota.
            - Calma. – ele tremia. Meu Deus! Ele estava mau, muito mau. – Assim quem vai precisar de um quarto no hospital é você.
            Consegui tirar um sorrisinho dele. Sorri.
            - Estraguei sua noite né? – ele olhou para mim e sentou na cadeira ao lado da cama.
            - Bem... não. Ela já estava estragada. Sabe...
Eu estava na balada com meu namorado e veio uma piriguete ridícula dando em cima dele na maior cara de pau. Ele em vez de dar um sumiço nela deu bola, comigo do lado. O ciúme e a raiva cresceram e sai da balada com raiva, então fui atropelada.
            - Bem... qualquer coisa me liga. Ta aqui meu telefone. – Ele me entregou um papel com o telefone e se levantou. – Tenho que ir. Até mais.
            - Até. – falei por falar.
            Estranho. Mas não é que ele era bonito? Droga. Acabei de terminar um relacionamento de 3 anos e já estou notando outros caras? Não que eu não notava antes... É que... Logo o cara que me atropelou? Fala sério. Isso não vai acabar bem.